e se não doer?
- E você sabe
como é que é? Ou como se sente quando?
- Quando?
- É, quando.
- Como quando?
- Quando não
nos resta outro jeito a não ser dizer a verdade.
- E como se
sente?
- Quando a
verdade é dita, quando não nos resta outro jeito, nessas circunstâncias,
aprendi que a sensação nunca é boa. Uma
mãe que tem que denunciar seu filho que cometeu um crime, a polícia, esta
sendo honesta de uma maneira sem precedentes. Mas, ela se sentirá melhor por
isso? Afinal, ela esta delatando um pedaço do seu coração, entregando ele aos leões.
A verdade
compensa? A sensação de alívio imediato, de tirar o peso do mundo das costas,
vai durar quantos segundos mesmo? Quanto tempo ela levará para perceber que as
coisas nunca mais serão as mesmas?
As vezes eu
penso que seria mais fácil deixar tudo como esta, afinal , o mundo já anda tão
complicado. E não é mais fácil, a gente
viver nesta cômoda sensação de felicidade? Se alguém comete um crime, talvez
devêssemos deixar pra lá, porque de repente tenha sido só dessa vez. Mas, vem
cá, me diga quais certezas nós temos? Que foi só dessa vez, ou que vai ser só
dessa vez? Se palavra servisse de alguma coisa, os cartórios estariam falidos
não é mesmo? Já que até como garantia de
que o conjugue será só seu (até mesmo pra isso), existe o contrato de
casamento, vulgo “casamento no civil”.
Então eu
sempre desejo.
- E deseja o
que?
- Que não, que
nunca e em hipótese alguma exista mentiras.
- Mas você
desejar isso já não é uma mentira por si só?
- O que eu quero dizer é que você só deve fazer aquilo que consegue
aguentar. Você pode perfeitamente fumar maconha, desde que esteja preparado
para lidar com o resultado do exame periódico toxicológico daquela
multinacional em que você trabalha, caso o mesmo dê positivo para a canabis.
Pois você pode perder o emprego, pode perder a credibilidade, a moral, o
respeito, a dignidade e os amigos. O ponto é, você esta preparado para tudo
isso? No duro? Porque caso não esteja, pare de fumar maconha imediatamente.
É preciso
antes de tudo sermos honestos conosco mesmos. Precisamos estabelecer dentro de
nós nossos limites do que é verdade juntamente com moralidade. Um estuprador
relatando um crime seu para outro estuprador é apenas uma confissão. Verdade
sem senso de moral é confissão, é relato, é troca de figurinhas, é a escória é
piada.
A verdade
dói, a mentira dói, acreditar que a verdade é mentira (e fingir que nada
acontece) dói ainda mais.
A verdade
dói, porque se a verdade apareceu, quer dizer que já houve mentira. Então são
duas dores de uma vezada só.
- Você esta
preparada?
- Para que?
- Para lidar com
a verdade?
- Não. Não
mesmo. Mas acho que todos tem o direito de conhece-la . As vezes dizer a verdade
pode ser mais difícil do que descobrir a verdade, como no caso da mãe que denúncia o crime do filho a
polícia, lembra? A maioria absoluta das pessoas a quem você perguntar, dirá que
reagiria igual a mãe e denunciaria o filho. Mas, denunciaria mesmo? E o medo do
seu filho não te perdoar? E o medo que ele morra ou vire uma pessoa pior na
prisão (já que o ambiente é bem favorável a isso)? E a vergonha perante a
sociedade, já que muitos a criticaram como mãe, e a educação que você ministrou
ao seu filho? Não. Dizer a verdade não vai ser nada fácil em nenhum
aspecto. É por isso que as vezes a gente
precisa daqueles 30 segundos de coragem absoluta, porque só com ela algumas
coisas são ditas. Quando é preciso coragem é porque é coisa grave, e nesses
casos a gente nunca sabe pelo o que esperar. O receptor da mensagem pode te
agradecer imensamente ou te odiar na mesma proporção, e não tem como descobrir
até o fato estar consumado. É uma faca de dois gumes.
- E pra que diabos serve uma faca de dois gumes?
- Se eu não me engano são uma espécie de punhal capaz de te estripar e te fazer sangrar até morte, ou que pode fazer apenas com que o sangramento seja o suficiente para que o veneno saia, escoe, e você fique imune.
- Imune ao veneno?
- Imune as verdades ou as mentiras. E esta sera uma decisão sua, única e particular.
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