I'm tired.



Respirar, engolir em seco, tropeçar em falso e me acalmar. Alguém poderia projetar pedras e abismos na minha frente para me frear?... mas eu passo por cima, passo no meio, derrubo e cato poeira. Talvez uma pressão arterial de 14.9 me fizesse parar, poderia mas não fez, pensava eu que uma pressão alta era no mínimo 20, afinal, é com uma pressão dessas que as grávidas tem eclampse, não é? Mas a enfermeira me questionou se eu tinha problema de pressão alta e eu disse não, depois me perguntou se eu fui até lá a pé, e eu disse que fui de moto. Ela não fez cara boa. E eu fiquei com a sensação de que tinha aprendido tudo errado sobre pressões arteriais, maldita televisão.

Eu poderia contar até dez, pensar antes de falar, e ter mais paciência. Mas numa rotina de cinco horas mal dormidas; seis matérias mais ou menos estudadas; 101 capítulos da novela em atrasos na SKY HD; quarto/ banheiro/  roupas para lavar no fim de semana, coisas que eu nunca consigo arrumar completamente (eu e minha bagunça sem fim); um namorado pra namorar aos sábados, e uma família para almoçar aos domingos é demais pra qualquer cristão. Quando perguntada na conversação de inglês - you like? - eu não pensei duas vezes - sleep. Ninguém fez cara boa. Mas mesmo assim eu continuo com a sensação de que quando esse semestre acabar eu vou dormir seis dias e seis noites.

Não julgar, não responder, não brigar, não reclamar, não adiar, não colocar obstáculos, não desistir. Eu queria sim ter todos esses nãos na minha vida, na minha rotina, na minha alma e coração; mas é tão difícil largar velhos hábitos... e certas coisas exigem tanto treino, foco e dedicação. Mas, mesmo assim eu queria. As vezes eu sou grossa mesmo fazendo esforço para não ser, ou será que eu não me esforcei direito? ou é a TPM? ou a crise da meia idade ? (mas eu ainda nem tô lá!).
Eu poderia amar mais as pessoas que eu amo. Mas se eu as amasse mais, eu teria que morrer por elas mil vezes, e eu morreria. Lembro que uma vez deixei a minha sobrinha (quando ainda era bebê) cair da cama, a senhora minha mãe (que tem um queda para dramas, mais do que eu) quando ouviu o choro me perguntou se eu a tinha deixado cair, eu menti e disse não. Sei mentir tão bem que minha mãe veio cheia de histórias tristes de crianças que haviam caído da cama e tinham parado de falar, ou adquirido tumores, ou até mesmo morrido. Ah! e lá vem a dica mais fundamental de todas : nunca em hipótese alguma deixe uma criança dormir se ela tiver batido a cabeça, JAMAIS. O motivo só Jesus pra saber, mas foi um conselho de mãe, e conselho de mãe se segue ou se respeita. E eu naquele instante, em meio a todo o pavor de tentar consolar minha sobrinha que ainda chorava, e lutando para não deixa-la dormir, tentando achar o meio termo entre o acalentar e não ninar, me agarrei a ele - Deus pai todo poderoso - nada de anjos da guarda e nem minha Nossa Senhora desatadora dos nós como intermediários, conversei diretamente com ele, sem vírgulas e traçamos o combinado - Oh meu Deus! não castigue minha sobrinha por um erro meu, foi eu quem a deixou cair. Se ela tiver que ficar com alguma sequela, que eu fique, que eu morra antes. Desconte nos meus anos de vida o quanto for necessário para que ela fique bem, me leve agora se for o caso, mas não deixe que nada de mal a aconteça.- E nesse dia, como poucas vezes a gente sente na vida, eu tenho certeza que ele me ouviu, mas ainda não sei qual parte do acordo foi travada, e nessa altura do campeonato pouco importa, afinal estamos todos bem. Só sei que naquele dia eu morri pela primeira vez. E digo, com certo gosto até, que abriria mão de todas as minhas vidas por uma meia dúzias de pessoas. Eu amo pessoas que me amam por motivos que eu sinceramente desconheço, e eu não sei dar a isso um nome, não mais.

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